10.2.09

Dúvida (ou certeza, dependendo do ponto de vista)

Por acaso, no mesmo dia tive contato com este texto de Saramago e com o filme Dúvida, de John Patrick Shanley, e parece que um foi feito com base no outro.

Por mais que o aparente objetivo central de Dúvida seja tratar sobre um possível caso de pedofilia, o que realmente permanece no filme é a questão do embasamento da fé. A irmã Aloysius, personagem de Meryl Streep que parece tão fervorosamente católica, está, na realidade, tendo grandes questionamentos a respeito da vida que leva e das razões para ser como é. Após ter enfrentado o padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) com fúria e certeza, a freira passa a analisar o valor dos títulos na Igreja Católica. Se até um padre exemplar é alguém capaz de abusar de um menino, e nem esta condição "espiritual" é capaz de frear tais atos, o que mais teria este poder?

Nesta descrença também se encontra o texto de Saramago, que tem uma abordagem mais agressiva e irônica. O autor, declaradamente ateu, mostra neste post a patética situação em que se encontram a Igreja e seus regentes. Uma instituição falida e um grupo de pessoas descompassadas, incapazes de verem a realidade atual, insistem em ficar num modelo de pensamento e comportamento medievais.

Sinto-me desmotivada ao ver essa gente cega, defensora de uma amoralidade tida como ética pura e simplesmente por ser perene. Mas não deveria sê-lo. A instituição católica deveria ter seu fim, e o mais assustador é que há inúmeros fatos que a deixam ridicularizada, mas a embriaguez do povo é tão grande que não se deixa ver a ruína do Papa e seus seguidores. "Pelos vistos, parece que alguém terá de atirar um sapato a um desses cardeais".