14.10.09

Da mediocridade

E aí que ontem eu estava pensando sobre como temos tempo na adolescência para tentarmos alcançar o diferente. Que seja através do cinema, da literatura, ou até mesmo de produção de conteúdo. Tenho pensado nisso porque a cada dia que passo me sinto mais como um personagem de "Tempos Modernos", aquele do Chaplin. Menos espaço pra cabeça e mais pra praticidade, por assim dizer, pro automático e pra tudo aquilo que envolve o material.

Dentre todas aqueles aplicativos idiotas do Facebook, existe um que dá frases do Caio F. Abreu. E eu descobri o cara pela web também, fazendo algumas pesquisas pelo Google, seguindo o Twitter (@caiofabreu) que posta algumas frases, enfim. E aí que eu estava facebookeando e o aplicativo "Pílulas de Caio Fernando Abreu" me deu a seguinte frase:


("Queríamos ser épicos heróicos românticos descabelados suicidas, porque era duro lá fora fingir que éramos pessoas como as outras.")

Quer dizer, to perdida mesmo.

22.6.09

Da similaridade entre caça e caçador

Antes mesmo de você levantar seus olhos pra mim, eu já sabia como ia ser o seu olhar. Ia ser aquele que eu mais repudio: aquele que transborda covardia. E você sabe que eu aceito tudo menos covardia. Porque ela é o motor de todas as coisas desprezíveis: a mentira, as acusações sem fundamento, as fugas.
Era como se fossemos bichos: eu, o predador e você, o cervo, a zebra ou qualquer outro bicho inofensivo. Não, inofensivo não, porque o instinto de sobrevivência, além de lhe proteger, joga o outro aos leões. E você me jogou aos leões sem piedade. Claro, era o caminho mais fácil pra você. Quer dizer, mais fácil entre aspas, porque suas atitudes tapam o sol com a peneira. Afinal de contas, melhor logo dar a cara a tapa e aceitar a questão, já que o que não tem remédio remediado está.
Eu penso em uma maneira eficaz de mudar o cenário, quebro minha cabeça e não chego a nenhuma conclusão. Porque, na realidade, não sou eu quem tem que mexer um dedo sequer. São vocês. Ou talvez nem façam nada mesmo, fiquem aí sugando um a alma do outro, até não sobrar ninguém pra contar história.
E eu vou estar aqui, olhando tudo de camarote, rindo e me divertindo. Eu quero ver o circo pegar fogo.

19.5.09

Le temps perdu

Saudade do ronco do fusca azul, e do cheiro dos bancos de couro. Saudade do rosbife e do manjar. Das canções do Roberto, do rádio do quarto de empregada que ficava sempre ligado, tendo gente pra ouvir ou não. Saudade daquela cozinha azul, que sempre tinha alguma coisa boa pra comer. Saudade do seu Juvenal, das moças mal-humoradas da padaria, do seu Viana, do Dr. Portela, do Dr. Elvas. Saudade dos apelidos, das visitas surreais que apareciam do nada. Saudade da risada, e do jeito como batia palmas ao rir. Saudade dos móveis descombinados, dos presentes que ela ganhava e fazia questão de deixar na sala à vista de todos, mesmo que eles fossem horrorosos. Saudade das flores de plástico que tinham gotinhas igualmente falsas coladas; eu tinha o prazer secreto de arranca-las, e depois fui descobrir que minha prima fazia o mesmo. Saudade das encomendas gigantescas que vinham do Maranhão, do camarão que nunca comi, da farinha d'água de que não gosto, e da fritada de bacalhau, que eu ainda tenho a esperança de comer novamente, mesmo que feita por outras mãos. Saudade de como me perguntava: "Ju, quer uma pizza?", daquele jeito que só vó faz, pra burlar minha mãe natureba. Saudade das sessões de cinema no Unibanco. Saudade de como fumava cigarros escondida dos outros, na área de serviço. Saudade das ceias de Natal, e do parabéns pro menino Jesus à meia-noite, e saudade de todos aqueles rituais engraçadíssimos de Ano Novo. Saudade dos resquícios ludovicenses, das expressões que ninguém mais usa, da ótica muitas vezes sábia, e algumas vezes totalmente surrealista e desligada. Saudade do jeito engraçado de suspirar e de rir da vida. Saudade daquela viagem pra Olinda, das idas à praia do Flamengo, do bronzeado que nunca mais largou a pele. Saudade dos banhos de cuia numa banheira improvisada. Saudade dos brincos e colares dourados, dos vestidos de rainha, dos inúmeros lenços pro pescoço. Saudade da casa sempre aberta pra quem quisesse entrar, do aconchego e do sossego, que subitamente cedia lugar a festas eternas. Saudade de como assumiu pra si o papel de vó, que não lhe cabia geneticamente, mas ninguém é capaz de dizer que não foi avó, porque foi da melhor qualidade, mais do que as outras (cada uma por sua razão). Saudade do nome, que ninguém tem. E vai ver por isso mesmo que ninguém é capaz de ser igual a ela na história do mundo.

13.5.09

Da castração

E de repente eu senti tudo estourar. Como aquele elástico vagabundo de escritório que você puxa até que ele estoure na sua mão, voando na sua cara e lhe deixando vermelho por causa do impacto.
Eu senti. Plect. Na minha cara. Do meu lado, atrás de mim (precisamente na nuca, feito gato que arrepia os pelos quando sente perigo), dentro de mim, e até mesmo longe, bem longe daqui.
Havia se criado um abismo. Como se o tempo tivesse parado, menos eu, e eu pudesse ver tudo congelado à minha volta. Eu me mexia pela cena tentando achar os 7 (só sete?) erros do jogo. A percepção do que era sólido e do que era imaginação não mais existia. Entrou tudo num mesmo liquidificador e se tornou uma massa quase homogênea, mas daquelas que ainda são meio embolotadas.
As palavras não faziam sentido, e talvez nunca tenham feito, mas o fato é que agora elas eram realmente inúteis. Uma vontade de me esconder nos travesseiros me invadiu. Mas eu não posso parar. Não posso, não posso...
Keep walking, johnny walker, que nada nesse mundo espera por ti.

23.4.09

num bloco de notas, pela madrugada

ela é graciosa, e flutua pelas palavras com uma leveza que nunca vi na vida.
tem os olhos grandes, expressivos, que trazem bem no fundo um lugar embaçado, um mistério daqueles sem solução.
me conta sobre os poetas, os pensadores, as dores da alma, as nuances daquela inquietude de se saber pequena no mundo.
o que ela não sabe é que é maior que eu, que todos aqueles que já conheci. é a maior do mundo.
é a maior do mundo, esse onde vivemos, e tem um universo dentro dela que é maior ainda. um infinito particular, que me intriga e me tira o sono.
tem um sorriso que revela e esconde.
parece que nunca vou conseguir conhecer tudo que mora dentro dela.
ainda bem.

15.4.09

Transformando elefantes brancos em formigas

Como uma torneira quebrada, de gota em gota, o tempo vem trazendo aquela força que você não sabia que tinha, ou talvez nunca tenha tido mesmo, e foi surgindo, crescendo, feito massa de bolo. O tempo fermenta o escudo.

O tempo traz mudanças de perspectiva, traz novidades. O tempo tem até trazido tranquilidade. Daquela persistente.

Sinto a diferença a cada dia. Acho até que o tempo destrói a inércia. Ou pelo menos nos faz ver que a inércia é perda de tempo, e aí nós mesmos a destruimos.

Que nem no "Abril Despedaçado", só que ao contrário. Quando o relógio diz "menos um, menos um", na verdade, ele diz "mais um, mais um"...

6.4.09

A eterna batalha das instâncias psíquicas

Eu fico aqui batendo o pé, agoniada, contando os segundos. Olho pro celular, pro computador, pro relógio, relembro/releio o que já foi dito/escrito, alt tab alt tab, quanto tempo já tem a ausência? Quanto tempo falta pra presença? Presença da presença, não a presença da ausência, que essa tá indo embora. Tic tac tic tac apitou fez barulho abri sorri e digito sem parar, louca pela resposta. Estou inebriada. Inebriada. Como se estivesse com sono. Os olhos falham. Please, don't rain on my parade. Me deixa ir, me deixa ver, deixa o risco me atingir. To guardando aqui dentro. Nunca quis tanto guardar. Mas tá aqui. Prometo. Entende? Não? Sei que sim.

30.3.09

Paciência

Paciência. Tem ciência no nome. Será que, de tão difícil de encontrar, é realmente um estudo or something? Tem curso? Mestrado? PhD?

- O que você estuda?
- Ah, eu tentei vestibular pra paciência, mas não passei, aí resolvi fazer jornalismo mesmo...

É complicado, viu?

24.3.09

Palavra (e imagem) (en)cantada(s)


"Me atirava do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos
Não me deixando cair
Era lindo, mas eu morria de medo
Tinha medo de tudo quase
Cinema, parque de diversão, de circo, ciganos

Aquela gente encantada que chegava e seguia
Era disso que eu tinha medo
Do que não ficava pra sempre"

Pra quem conhece os versos e viu o filme, acho que não preciso falar mais nada.
O documentário traz um elenco escolhido com imensa sabedoria, de Chico a BNegão. Lirinha, Adriana Calcanhotto, Black Alien, Jorge Mautner, Arnaldo Antunes, etc. Todos eles ligados à palavra escrita e/ou cantada como forma de narrativa, como expressão da alma, da realidade particular e onírica de cada um. As obras de cada um deles parecem ter uma aura que leva seus significados pra algum espaço (físico e temporal) longe daqui, pra trás daqui. É uma gente que acredita no peso das palavras. Que reconfortante ver que eles existem. É o que me motiva na vida, a palavra, ainda mais se estiver acompanhada de imagens.
Mas, que angústia. Essa gente tá se acabando. Sumindo. Tenho medo da gente encantada que não fica pra sempre. Que saudade do que não vivi, da motivação que não tive, das ideias que não vi nascerem.
Que dor.

17.3.09

"A montanha insiste em ficar lá, para lá, parada, parada" ou "Eu tenho 14 anos"

Faz parte de uma fase (boba) da vida tentar desconstruir valores socialmente transmitidos para nós. Ou talvez isto até denote uma boa capacidade de análise e reflexão sobre o comportamento automático do homem. Mas olha, tem coisa que não há santo que mude. Acendam isqueiros, chamem os violinos e as pétalas de rosas porque eu vou te dizer: uma vez firmemente construído, um sentimento é difícil de ser quebrado.

Penso que sempre julgamos erroneamente nosso preparo emocional. Fazemos de tudo para enterrar algumas coisas que são facilmente trazidas à superfície com meia dúzia de acordes, ou então com um cheiro. Crisis avoided? Porra nenhuma. Não adianta, cave o quanto quiser, o sentimento volta.

Pareço andar pra trás em alguns momentos, quando me pego descobrindo coisas como se fosse criança, como se ainda tivesse 14 anos de idade (pra mim, essa é a idade-chave quando começam os questionamentos profundos) e tivesse tido a epifania de que a dor tá aí, a todo momento.

Aprendi que lembranças voltam, querendo ou não. Consigo até visualizá-las como ondas. Às vezes é marola. Às vezes é ressaca. De quanto tempo vou precisar pra não tomar um caixote quando elas vierem novamente?

10.2.09

Dúvida (ou certeza, dependendo do ponto de vista)

Por acaso, no mesmo dia tive contato com este texto de Saramago e com o filme Dúvida, de John Patrick Shanley, e parece que um foi feito com base no outro.

Por mais que o aparente objetivo central de Dúvida seja tratar sobre um possível caso de pedofilia, o que realmente permanece no filme é a questão do embasamento da fé. A irmã Aloysius, personagem de Meryl Streep que parece tão fervorosamente católica, está, na realidade, tendo grandes questionamentos a respeito da vida que leva e das razões para ser como é. Após ter enfrentado o padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) com fúria e certeza, a freira passa a analisar o valor dos títulos na Igreja Católica. Se até um padre exemplar é alguém capaz de abusar de um menino, e nem esta condição "espiritual" é capaz de frear tais atos, o que mais teria este poder?

Nesta descrença também se encontra o texto de Saramago, que tem uma abordagem mais agressiva e irônica. O autor, declaradamente ateu, mostra neste post a patética situação em que se encontram a Igreja e seus regentes. Uma instituição falida e um grupo de pessoas descompassadas, incapazes de verem a realidade atual, insistem em ficar num modelo de pensamento e comportamento medievais.

Sinto-me desmotivada ao ver essa gente cega, defensora de uma amoralidade tida como ética pura e simplesmente por ser perene. Mas não deveria sê-lo. A instituição católica deveria ter seu fim, e o mais assustador é que há inúmeros fatos que a deixam ridicularizada, mas a embriaguez do povo é tão grande que não se deixa ver a ruína do Papa e seus seguidores. "Pelos vistos, parece que alguém terá de atirar um sapato a um desses cardeais".

11.1.09

Da série: "Imposições Sociais"

Numa recente conversa, com uma pessoa também recentemente presente em minha vida, debatíamos a necessidade de títulos e a dificuldade "dos outros" de entenderem certos modelos de relacionamento.

Desde cedo, nos é imposta a obrigação de pôr tudo em pratos limpos, digamos, para dar à sociedade o conforto de conhecer nossos passos e nossa linha de raciocínio. Mas qual é o benefício que isso nos traz? Bisbilhotice é benefício?

Certos rumos que tomei na vida me fizeram dar murro em ponta de faca, até descobrir que, na realidade, eu não precisava insistir no que me foi imposto, e poderia construir um modelo novo.

Porém, este processo de moldar o ponto de vista é absolutamente pessoal e intransferível, de modo que tentar fazer com que se entenda o que você vive é o verdadeiro murro em ponta de faca. Por vezes, os clichês sociais criados há séculos se impõem ao raciocínio lógico. O que para os outros pode parecer submissão ou anulação de si mesmo, para você pode significar respeito pela individualidade do outro e pela sua também.

Para que tentar fazer com que um elemento exterior entenda o que parece estranho, se é esta excentricidade aquilo que lhe satisfaz?

5.1.09

Et quand tu me regardes, avec cette manière que tu sais que m'atteint, je ne peux rien faire. Mais qu'est-ce que je veux faire?

Je suis si aveugle que j'ai perdu mon habilité de juger. Ironique ça, parce que tu aimes dire que ça c'est la chose que je fais le mieux (et même aujourd'hui je ne sais pas encore si c'est un elòge ou une critique). Mais c'est vrai: tout le monde me dit que je suis aveugle. Et, sans blague, je ne vois aucune manière de me faire voir de nouveau.

J'ai toujours essayé d'être objective, et grâce à toi. Avec ta influence, j'ai perdu mon innocence, celle-là qui me faisait te donner des cadeaux et te dire des mots douces. Parfois je pense à mon avenir e j'ai la certitude que je ne serais plus capable de montrer les choses qui sont cachées dedans moi.

Mais je me suis trompée, n'est pas? Bien sûr, je suis vraiment capable de les montrer. Tu le sais. Tu fais mon pensée fondre, et peut être je ne devrais pas dire ça, mais tu as la plus dangereuse des armes dans tes mains. Mon pensée. Il m'a dilacéré pendant ces semaines, et tu connais la cause. Je n'ai pas besoin de te le dire.

Je sais que tu ne vais pas changer. Et je ne veux pas. Ce que je veux? C'est une immense interrogation que je prétends tendre le plus vitte possible. Aide-moi a trouver comment. Je m'ai déjà désisté.


(pardonnez-moi pour les erreurs, mais le dictionaire est fatigant après certain temps)

1.1.09

Eu nunca gostei do obrigatório. Mas não qualquer um: falo do obrigatório-social. Acho regras necessárias para manter certa civilidade, mas há tipos de normas que não têm cabimento.

Como, por exemplo, a necessidade histérica de permanecer exhilarated na noite de Ano Novo, vestindo branco, bebendo até perder as contas, sendo esperançoso e simpático. Nunca gostei muito desta festa, sempre achei meio besta essa história de gritar enlouquecidamente a contagem regressiva para o próximo ano. Entretanto, pelas tais tradições, acabei me acostumando com a situação.

E juro, eu juro, que neste ano eu estava entrando no clima da celebração, me preocupando com o que iria fazer, com quem estaria comigo, com o que iria vestir. E até que foi divertido até certo ponto, mas aí que entra a tal realidade. Constatei que nada é diferente na virada. Nada. A preocupação com despirocar toma totalmente o lugar da espiritualidade e do sossego que deveriam envolver o momento de receber um novo ciclo da vida.

Na onda social de estar feliz no Ano Novo, fiz meu esforço. Mas não resisti. Não sei se é a sobriedade, ou se eu sou uma ovelha negra, ou até se todos estão loucos, mas o fato é que não consigo me contaminar por tamanha comoção.

Permanece a certeza de sempre, existente em 31 de dezembro e em todos os outros dias do ano, de que não importam quantas ondas você pular ou quantas latas de cerveja beber, este ano será igual aos outros. O coletivo vai permanecer estagnado.