12.2.19

a última (?) vez

De modo geral, a gente não sabe quando será a última vez que faremos alguma coisa. De modo geral, a gente não sabe nem qual foi a última vez que fizemos alguma coisa. Já perdi algumas pessoas na minha vida, seja por morte, afastamento natural, rompimento e, mesmo nos casos mais drásticos, é difícil se lembrar das últimas vezes: do último beijo, do último abraço, da última briga, da última ida juntos ao cinema, das últimas palavras.

Porém hoje vivo um cenário de exceção: de malas (quase) prontas pra partir do Brasil, me vejo listando mentalmente as próximas últimas vezes: o último show, a última ida naquele restaurante japonês, o último encontro com os amigos. É uma espécie de bucket list do emigrante. Cada item que é cumprido dessa lista, meu coração aperta mais um pouquinho, já que fico com a sensação de que estas de fato serão as últimas vezes que farei as tais coisas que me são tão caras.

Sair do país não é decisão fácil, ainda aqui minha cabeça fervilha com as tantas elocubrações na linha do pode-ser-que-esta-seja-a-última-vez-que-something. Todo dia me vêm essa pira, desde o último encontro em família até a última ida à padaria aqui do lado de casa. Acho que é da lua em Touro essa agonia de desempacar dos loopings que davam a segurança de que tudo aquilo não era a última vez. Com a passagem só de ida comprada, a urgência dos fins é grande. Mas, maior ainda é a urgência de outras primeiras vezes que se aproximam. Sigamos.